por Rafael Carvalho
fotografias Jonatha Cruz
Arlequina Kombi, nossa querida Arlequina tirou férias. Isso mesmo, quem disse que a “kombota” não precisa de descanso? Pois os mambembes arlequinos dos grupos doBalaio e Cia. Do Outro Eu, juntamente com o fotógrafo Jonatha Cruz, o ator Daniel Marques e eu – Rafael Carvalho – fomos para Sorocaba ter o privilégio de curtir um feriado indescritível!
Sábado de Sol, tudo que temos a frente é uma estrada
cheia de incertezas e futuro desconhecido. Se há alguma certeza, é apenas o
destino. Sorocaba, cidade localizada no interior de São Paulo, com
aproximadamente 586.625 habitantes (Censo 2010) tem
um misto de cidade grande, e uma pitada ao mesmo tempo de interior e
tranquilidade.
Desembarcamos no centro da cidade, que
por sinal já demonstrava um ambiente calmo por conta de suas lojas fechadas,
incluindo restaurantes que eram o foco dos viajantes que estavam famintos.
Decidimos ir ao shopping da cidade, uma breve caminhada que nos trouxe um
contraste urbano, com o interiorano como, por exemplo, os pés de amora em frente
ao shopping que aguçou a criança interior de cada um dos arlequinos.
Barriga cheia, mão lavada, pé na
estrada? Que nada, o melhor ainda estava por vir. Instalado na Biblioteca
Infantil de Sorocaba, o Circo-Teatro Guaraciaba estava pronto para mais uma
apresentação. Ouvimos muito sobre este circo, na turnê de apresentações
realizada em julho, onde os artistas da Arlequina tiveram o prazer de conhecer
um pouco da história deste circo que se não o mais conhecido, um dos mais
tradicionais do Brasil por intermédio de Iracema Cavalcante, atriz e uma das estrelas
da peça O Machão que conta a história de Anacleto, um chefe de família que
sofre nas mãos de sua mulher dominadora. Buscando liberdade, se rende as
armações do seu amigo Tobias, curtindo uma boa farra. Anacleto ouve sem querer,
sua mulher dizendo que gostaria de ser casada com um homem audacioso, forte e
dominador e aí começam as reviravoltas na trama.
Uma apresentação digna de muitos
aplausos, risos e boas recordações. Ao final do espetáculo fomos calorosamente
recepcionados pela família Malhone e os demais integrante da trupe do
Guaraciaba, que nos cedeu local para descansarmos após uma ótima noite de prosa
leve sobre arte e vida na residência de Guaraciaba Malhone, filha do fundador
do circo Palhaço Pirolito – Antônio Malhone – que deu seu nome ao circo, como homenagem.
Domingo, o que temos para fazer?
Assistir algum programa dominical ou, comer em volta de uma mesa uma
macarronada e curtir uma preguiça? Claro que não! Após rodarmos quilômetros de
distância merecidamente tivemos um dia incrível graças ao convite de dona
Iracema para conhecer a represa localizada em Votorantim.
Uma breve estrada é percorrida, rodeada
por natureza e envolvida por um dia ensolarado com direito a cantoria. Chegamos
a uma espécie de camping localizado a beira da represa. Casais, famílias,
amigos... todos os tipos e biótipos se encontram em um espaço de convivência e
entretenimento. E lá vamos nós com nossa discreta, e humilde Arlequina montando
nosso acampamento quase cigano com direito a um belo lanche, banho de Sol e um
mergulho nas águas da represa. Água gelada, literalmente gelada!
Na volta, decidimos conhecer um pouco
mais da fé na região visitando a Capela da Penha, que foi construída no século
XVII. Localizada em um ponto alto da cidade, a capela tem um misto de deterioração
e fé. Como forma de resistência da força e crença dos habitantes de Votorantim,
possui diversas imagens já desgastadas pelo tempo, mas repletas de energia.
Para completar, uma vista de tirar o fôlego, uma experiência sem explicações.
Voltando a Sorocaba, e chegou a vez de
assistir Escrava Isaura, brilhantemente interpretado pelos artistas do
Circo-Teatro Guaraciaba. Desta vez, tive o prazer de conhecer os bastidores e
até mesmo auxiliar na mágica materialização digamos assim, da escrava
interpretada por Iracema Cavalcante. Três escravas completam o núcleo cômico da
peça, o riso é garantido.
A
muito tempo, não me sentia tão próximo da arte pelo lado de dentro. A
maquiagem, o figurino, a correria no camarim. Em meio a todo esse clima
fantástico do circo tivemos nosso derradeiro espetáculo assistido, já constando
um clima de saudade.
Voltando a São Paulo, na mala trouxemos recordações,
sentimentos diversos, história pra contar. Tivemos a oportunidade de conhecer
de perto o universo circense clássico, mesmo que esteja em atual forma moderna,
claramente sentimos em cada um dos artistas a energia de seus patriarcas. O
amor pela arte, o mesmo amor que uniu todos esses mambembes – como diria
Leandro – e os fez a bordo da Arlequina ir em direção a uma viagem cheia de
arte e sonhos. Sonhos, coisa que os arlequinos têm de sobra no coração, e é
disso que se faz o futuro de todos envolvidos. Que venham as próximas!